Estratégia dos Gpaes nas favelas vai ser revista

Estratégia dos Gpaes nas favelas vai ser revista



Após especial mostrado pelo O Dia, Secretaria de Segurança anuncia revisão para evitar que policiais fiquem superexpostos




Leslie Leitão e Paula Sarapu
Rio - A estrutura frágil de um pequeno grupo de policiais militares
aquartelados em um trailer, na divisa dos morros da Babilônia e do
Chapéu Mangueira, no Leme, onde traficantes desfilam seu armamento
pesado, como O DIA mostrou ontem, fará a Secretaria de Segurança
repensar a utilidade dos Grupamentos de Policiamento em Áreas Especiais
(Gpaes). Nas duas comunidades, o modelo foi instalado há 10 dias, mas
não mudou a rotina do livre comércio de drogas. De acordo com o
subsecretário de Planejamento e Integração Operacional, Roberto Sá, é
hora de esse conceito ser revisto, com base nos baixos resultados e no
efetivo reduzido. “Não
podemos submeter um agente de segurança pública a uma situação de
contato com o tráfico em que ele não pode agir. Os resultados obtidos
com o efetivo que se tem não são satisfatórios e por isso vamos
repensar estratégia e rever o conceito do Gpae. Analisando os números,
também acho pouco. É pouca gente, com pouco resultado, diante do
tráfico que está guardado por um exército ousado que usa armas longas”,
afirmou.

Roberto Sá argumenta que as polícias estão diariamente
em combate ao tráfico, mas que “o cobertor é curto” e não se pode
ocupar todas as comunidades ao mesmo tempo, além de cuidar do asfalto.
“Os moradores devem ter ficado assustados porque as fotos são fortes.
Não dá para imaginar que em um lugar pequeno como aquele possa ter um
desfile exagerado de armas, perfil de favelas do Comando Vermelho. Daí
se vê que nossa tarefa é difícil.”

Na Assembléia Legislativa,
o poderio dos traficantes no pacato bairro do Leme — que amanhã
completa 114 anos — causou indignação. O deputado estadual Flavio
Bolsonaro (PP), vice-presidente da Comissão de Segurança, vai convocar
o comandante do Gpae da área.

“É uma afronta. Pelo que o jornal
mostrou, é preciso megaoperação e não manter apenas quatro policiais no
local. É até covardia. Os policiais passam a ser reféns e acabam
fazendo a segurança dos bandidos. Quero saber qual a estratégia do
Gpae, mantendo tão poucos PMs, enquanto as imagens mostram traficantes
armados até os dentes”, disparou.

A Polícia Militar, responsável
pelo patrulhamento ostensivo, se recusou a falar sobre o assunto.
Procurado, o Serviço de Relações-Públicas da corporação (PM-5)
limitou-se a informar que o responsável, o coronel Rogério Leitão,
estava num curso. Enquanto isso, o comandante-geral, Gilson Pitta,
participava de um seminário em Alagoas. O chefe do Estado-Maior,
coronel Antônio Carlos Suarez David, afirmou que a PM-5 se pronunciaria
sobre o caso.

O subchefe de Polícia Civil, Ricardo Martins,
disse que estava ocupado e não poderia comentar as imagens. O chefe de
Polícia, Gilberto Ribeiro, está na Alemanha.

OITO ANOS E POUCOS RESULTADOS

Os
resultados recentes obtidos com a implantação dos Gpaes em outras
comunidades são insatisfatórios. Um dos exemplos é o da Vila Cruzeiro,
na Penha. Palco de tiroteios diários, a favela é praticamente
intransitável sem o uso do Caveirão. Ainda assim, os policiais que
trabalham no Gpae descem e sobem sem problemas.

Os números
mostram uma convivência quase pacífica. Em quatro meses de 2008, só um
traficante foi preso por PMs do Gpae: dia 11 deste mês, com 53
trouxinhas de maconha e 76 sacolés de cocaína. Houve duas outras
apreensões: 1,4 quilo de maconha, em fevereiro, além de uma granada e
um tablete de maconha em março.

O trailer no Chapéu
Mangueira-Babilônia seria uma espécie de extensão do primeiro Gpae
implantado, em 2000, no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, que chegou a ser
considerado um sucesso no início do projeto. Os último números de lá,
porém, também são inexpressivos.

Há ainda Gpae nas comunidades
da Formiga (Tijuca), Providência (Centro), Cidade de Deus (Jacarepaguá)
e nos morros do Estado e do Cavalão, em Niterói. Este último apresentou
bons resultados, abrindo caminho para que ações sociais chegassem à
favela.

é né?!hum